terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Clarice.

Estava agora pouco lendo a Biografia sobre Clarice. Acho que nunca fiquei tão fascinada como estou agora. Um fascínio diferente,que veio junto com uma enorme dor. Uma dor que está me consumindo lentamente - Clarice possuiu minha alma? Quem saberá...
Acho que ficaria lendo o livro noite a dentro,mas meus olhos doem,ardem,à noite forço muito a vista,é melhor não forçar.Mas a dor na alma é maior do que a dos olhos - é mais forte,é mais intenso.
Estou sentindo sensações,estou tendo memórias,memórias da minha própria vida.Vida que mal começou,mas mesmo assim - é uma vida.Me deu uma enorme vontade de chorar e de dá um abraço apertado em Clarice! Infelizmente nunca darei este abraço - ela se fora. Se fora e deixou uma obra que me fascina.E como alguém que partiu,que ao menos sabe da minha simples existência,me entende tanto? Me decifra tanto? Neste momento me bateu um peso de existir,não sei explicar. Neste momento estou sentindo Clarice em mim como nunca senti antes. É como se eu estivesse entranhada dentro de cada palavra,de cada texto dela,e como se ela me entendesse mais do que eu mesma. Não sei explicar,é complexo o que sinto no momento. A próxima vez - espero que não haja próxima - que eu passe mal,ou seja internada,imaginarei também que estou indo pra Paris.
Acho que começo a compreender o poder da palavra - não salva vidas,afinal,Paris nunca chegou a Clarice - mas salva almas. Hoje eu acho que eu entendi como Clarice se salvou a vida inteira dos pesos,traumas dela.
Não estou nem na metade da biografia e já estou sentindo isso tudo? Preciso de coragem para entender Clarice tão afundo,afinal,ela está penetrando em mim. Ela também repetiu um ano a escola - motivos diferentes,mas repetiu. Quando eu iria imaginar isto? Senti um alívio quando li isto - sempre me revoltei por parar de estudar,por fazer um ano atrasado,e Clarice também fez um ano atrasado. Conscidência ou destino? Estou descobrindo fatos que se parecem tanto entre mim e ela,e ao mesmo tempo são tão diferentes. Contraditório - mas real.Motivos diferentes - dores semelhantes. Quem entende?
A dois anos sou fascinada por uma mulher que sempre me decifrou e hoje -somente hoje - percebo o quanto eu tenho em comum com ela literalmente.Me sinto em estado de choque.Estado de choque com que? Não sei explicar. Comigo talvez.Ou com Clarice. Ou com ser - com existir.Amanhã seria aniversário de Clarice,no dia 10 seria aniversário de morte de Clarice. E só de me lembrar disso,me dá mais vontade ainda de chorar.E ao mesmo tempo me dá mais vontade ainda de escrever.Pela primeira vez sinto um prazer ao escrever,além do alívio é claro.Não,eu não estou bem,isto NÃO É NORMAL.
Como assim? Escrever sempre me fez tão mal,e agora - neste breve momento - está me dando um prazer. O que está acontecendo comigo? Talvez uma aceitação finalmente de ... De? De aceitar a palavra.Clarice sempre foi tão surreal pra mim - eu sempre achei que a sentia viva dentro do meu ser,e agora vejo que estou começando a senti-la realmente neste momento.
Estou começando a senti-la,sim estou... é tão estranho a sensação que sinto no momento.Me perco olhando para o horizonte tão profundo,tão imenso. De repente uma paz - uma paz tão profunda. E meus dedos não conseguem parar de escrever. Mas eu quero parar,POR FAVOR,eu preciso parar. A palavra é mais forte que eu.Não consigo me conter diante da palavra.A palavra é tão sedutora,tão misteriosa. Misteriosa como Clarice. E o mistério tem o seu charme - o mistério me atrai. E até quando eu sentirei todos esses mistérios tão profundos sobre mim?Até quando sentirei a escrita me dominando tanto? Até quando sentirei Clarice? Até quando sentirei toda essa dor e ao mesmo tempo felicidade? Até quando sentirei a dor de existir?
Há perguntas que só o tempo responderão - ou nem mesmo ele responderá. Que as perguntas se eternizem - e um dia,quem sabe,alguém as compreenda e as responda.

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